Mesmo depois de ultrapassar o drama da infecção pela Covid-19, uma família que decidiu ficar em anonimato, relatou que trava a batalha da discriminação, mesmo depois de estar totalmente recuperada.
Segundo o jornal “O PAÍS”, o chefe de família, Luís António ( nome fictício) , de 52 anos de idade, a esposa, de 51, e o seu filho mais velho, de 30, são provas do estigma, embora o governo lute para sensibilizar a população.
Em entrevista ao “O País” António revelou que tudo começou em Julho, quando a sua esposa apresentou sintomas de febres, e julgando se tratar de paludismo, foi levada a um posto de saúde no bairro. No dia seguinte, o filho mais velho também começou a passar mal, queixando-se de dores musculares e febres.
O chefe de família, que também trabalha em um hospital, recorreu ao seu posto, onde foi medicado. Na espera dos resultados dos exames, a médica notou algo de estranho no seu Raio X e pediu que fizesse um teste de Covid-19. “Como sempre, tive problemas de baixa nas plaquetas, estava despreocupado. Como o filho seguiu-me ao hospital com um amigo, pedi-lhes que fossem para casa, pois não teria horário de saída”, disse.
António foi transferido para um quarto e, de seguida, os enfermeiros tiraram o outro paciente que dividia o mesmo quarto com ele. Desconfiado, exigiu uma explicação dos enfermeiros que pediram que aguardasse pelos médicos, factor que o levou a suspeitar que estava infectado. “Não demorou muito e os médicos deram-me a notícia que tinha Covid-19, mas garantiram não se tratar de um caso grave”, explicou.
A equipa de resposta rápida deslocou-se ao seu bairro, porém, não em sua casa para não alarmar os vizinhos. Num ponto estratégico previamente acertado, a esposa e o filho mantiveram contacto com a equipa de profissionais, fizeram os testes e foram encaminhados ao quilómetro 27. “A minha esposa era assintomática e ficou internada na mesma área que eu. Mas o meu filho entrou como um caso grave e foi alojado em áreas reservadas aos doentes críticos”.
O chefe de família disse que a pior parte da doença foi ter de gerir o estigma por causa da reacção dos seus vizinhos. “Por incrível que pareça, até as pessoas mais próximas nos fugiram. Atiraram pedras no teto da minha casa. Até a vizinha que faz negócio perto de casa também sofreu e deixaram de comprar o negócio dela”, lamentou.